segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Convocação - Assembléia Geral

Prezado (a) amigo (a),


A SABED - Sociedade Amigos da Biblioteca Epifânio Dória, vem 



através deste convidar todos os seus membros para participar 


de uma assembleia geral que se realizará no próximo dia 17 


de janeiro, às 18h, quando, na oportunidade, discutiremos o 


processo de formação da nova diretoria.




Cordialmente,



José Benedito de Santana


Presidente da SABED

segunda-feira, 20 de junho de 2011

CONVITE - RODA DE LEITURA

Biblioteca Epifânio Dória completa 163 anos


A maior e mais antiga casa de leitura do Estado, Biblioteca Pública Epifânio Dória (BPED), comemorou na quinta-feira, 16, 163 anos de existência. Fundada em 1848 – num grande momento de efervescência cultural do Brasil Império –, a então Biblioteca Provincial de Sergipe foi inaugurada somente no ano de 1851, numa sala do Convento São Francisco, em São Cristóvão. Anos mais tarde, com a mudança da capital, a biblioteca foi transferida para Aracaju, sendo chamada de Biblioteca Pública do Estado.



Somente em 30 de dezembro de 1970, com o Decreto 2020, a instituição passou a se chamar Biblioteca Epifânio Dória. No mesmo ano, o prédio da atual sede em que se encontra a biblioteca foi projetado e construído pelo engenheiro Geraldo Magela. Mas quem foi o homem que dá nome à biblioteca mais antiga de Sergipe?
Saiba quem foi Epifânio Dória
Seu nome é Epifânio da Fonseca Dória e Menezes, que nasceu em 7 de abril de 1884, na fazenda Bairro Caído, na cidade de Poço Verde. Documentarista, jornalista e pesquisador, Epifânio dirigiu a Biblioteca do Estado de Sergipe de 1914 a 1943. Tornou-se ainda presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, membro da Associação Sergipana de Imprensa, da Academia Sergipana de Letras e de várias instituições literárias do Brasil e do exterior.
Em 1935, o documentarista torna-se deputado estadual e em 1937, no governo Eronildes de Carvalho, ele é nomeado secretário de Estado da Justiça, Agricultura e Fazenda. Em 8 de junho de 1976 ele morre – vítima de câncer no aparelho digestivo. Atualmente, ele é considerado um dos mais competentes e importantes conservadores das fontes históricas de Sergipe.
Segundo o historiador Luis Antônio Barreto, Epifânio foi escritor das colunas de Efemérides Sergipanas, ajudando a construir biografias com informações preciosas, selecionadas por uma pesquisa criteriosa – atividade que ele mais tinha prazer em fazer e tinha maior conhecimento.
Memórias de uma das herdeiras
Para a neta de Epifânio, a jornalista Naná Garcez Dória, a mais bela memória guardada ao lembrar-se de seu avô está ligada ao carinho que ele tinha com os netos e aos momentos de contação de história. “Quando eu nasci, ele tinha 80 anos. Meu avô era uma pessoa muito carinhosa e ao mesmo tempo metódica, por isso mantinha todos os papéis organizados. Se um estudante ou pesquisador fosse até a nossa casa, ele tinha, prontamente, a informação para dar àquela pessoa”, contou Naná.
“Dois objetivos marcavam a vida dele, além da organização de documentos. O primeiro era o combate ao analfabetismo e o segundo era tornar a informação disponível para todas as pessoas. Tanto que ele foi por muito tempo diretor da biblioteca. Valorizar a democratização do conhecimento: esta era sua meta de vida”, acrescentou a neta do ilustre Epifânio Dória.
Gestão
Gerir um espaço de tamanha relevância cultural é um grande desafio, como revela a secretária de Estado da Cultura, Eloísa Galdino. “A Biblioteca Pública Epifânio Dória é um verdadeiro templo da literatura em Sergipe. Desde 2007 o estabelecimento cultural vem recebendo melhorias, como o setor de livros em braile e a aquisição de novos livros para renovação do acervo, após 22 anos sem receber nenhum exemplar do poder público. Sabemos que ainda há muito que fazer na BPED, mas é importante reforçar que os primeiros passos já estão sendo dados”, diz a titular da pasta.
Entre 2010 e 2011, a Biblioteca recebeu mais de 1200 exemplares, dos mais variados gêneros literários. Além disso, recebeu novos equipamentos de informática para catalogação dos exemplares. A Secult já deu início ao processo de modernização da BPED, a partir de um convênio com o Ministério da Cultura (MinC). O estabelecimento cultural também vem recebendo número considerável de rodas de leitura e exposições.
Para a diretora da BPED, Sônia Carvalho, estar à frente da instituição acarreta muita responsabilidade e compromisso com a sociedade. “Esta é uma instituição secular muito importante para a sociedade sergipana. Manter o compromisso de servir o público é muito gratificante para mim. Convido as pessoas para que compareçam à biblioteca, conheçam nosso acervo e saiam daqui com nosso maior tesouro que é a informação”, disse Sônia.
A Biblioteca Pública Epifânio Dória possui mais de 100 mil livros e está aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 21h, e aos sábados até o meio-dia.
Fonte: Secult

Novos Livros





A Secretaria de Estado da Cultura (Secult) deu um novo passo na modernização do acervo da Biblioteca Pública Epifânio Dória (BPED) e da Biblioteca Infantil Aglaé Fontes (BIAFA). O material foi adquirido através da emenda do ex-Deputado Federal Iran Barbosa, onde foram comprados 775 volumes, de 381 títulos, além de equipamento de informática para a informatização do acervo. A solenidade de entrega ocorreu na manhã de terça, 07 de junho, em paralelo à Roda de Leitura do Proler (Programa Nacional de Incentivo à Leitura).

Alguns dos novos títulos adquiridos

*Literatura Infanto-Juvenil:
O Chá das Oito - Lilian Rocha
Histórias de Bruxa Boa - Lya Luft
o Tesouro das Virtudes para Crianças - Ana Maria Machado
Uma Professora Maluquinha - Ziraldo
O Pequeno Principe - Antoine de Saint- Exupéry
Chapeuzinho Amarelo - Chico Buarque

*Literários
COMER, REZAR E AMAR - ELIZABETH GILBERT
ORGULHO E PRECONCEITO - JANE AUSTEN
CEM ANOS DE SOLIDÃO - GABRIEL GARCÍA MARQUEZ
DECLARAÇÃO DE AMOR - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
NEBLINAS E SERENOS - GILVAN LEMOS
RIACHO DOCE - JOSÉ LINS DO REGO
BEIJO NO ASFALTO - NELSON RODRIGUES
CENAS DA VIDA - RUBEM ALVES
CONTOS DE AMOR E CIUMES - MACHADO DE ASSIS
CORREIO FEMININO - CLARICE LISPECTOR
LACOS DE FAMILIA - CLARICE LISPECTOR
50 CONTOS DE MACHADO DE ASSIS - JOHN GLEDSON
O HOMEM PROIBIDO - NELSON RODRIGUES

terça-feira, 30 de junho de 2009

REUNIÃO

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A Biblioteca de Babel - Jorge Luís Borges


By this art you may contemplate the

variation of the 23 letters...

The Anatamy of Melancholy, part. 2,

sect. II, mem. 1V.

O universo (que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por balaustradas baixíssimas. De qualquer hexágono, vêem-se os andares inferiores e superiores: interminavelmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte prateleiras, em cinco longas estantes de cada lado, cobrem todos os lados menos dois; sua altura, que é a dos andares, excede apenas a de um bibliotecário normal. Uma das faces livres dá para um estreito vestíbulo, que desemboca em outra galeria, idêntica à primeira e a todas. A esquerda e à direita do vestíbulo, há dois sanitários minúsculos. Um permite dormir em pé; outro, satisfazer as necessidades físicas. Por aí passa a escada espiral, que se abisma e se eleva ao infinito. No vestíbulo há um espelho, que fielmente duplica as aparências. Os homens costumam inferir desse espelho que a Biblioteca não é infinita (se o fosse realmente, para que essa duplicação ilusória?), prefiro sonhar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito... A luz procede de algumas frutas esféricas que levam o nome de lâmpadas. Há duas em cada hexágono: transversais. A luz que emitem é insuficiente, incessante.

Como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha juventude; peregrinei em busca de um livro, talvez do catálogo de catálogos; agora que meus olhos quase não podem decifrar o que escrevo, preparo-me para morrer, a poucas léguas do hexágono em que nasci. Morto, não faltarão mãos piedosas que me joguem pela balaustrada; minha sepultura será o ar insondável; meu corpo cairá demoradamente e se corromperá e dissolverá no vento gerado pela queda, que é infinita. Afirmo que a Biblioteca é interminável. Os idealistas argúem que as salas hexagonais são uma forma necessária do espaço absoluto ou, pelo menos, de nossa intuição do espaço. Alegam que é inconcebível uma sala triangular ou pentagonal. (Os místicos pretendem que o êxtase lhes revele uma câmara circular com um grande livro circular de lombada contínua, que siga toda a volta das paredes; mas seu testemunho é suspeito; suas palavras, obscuras. Esse livro cíclico é Deus.) Basta-me, por ora, repetir o preceito clássico: "A Biblioteca é uma esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, cuja circunferência é inacessível".

A cada um dos muros de cada hexágono correspondem cinco estantes; cada estante encerra trinta e dois livros de formato uniforme; cada livro é de quatrocentas e dez páginas; cada página, de quarenta linhas; cada linha, de umas oitenta letras de cor preta. Também há letras no dorso de cada livro; essas letras não indicam ou prefiguram o que dirão as páginas. Sei que essa inconexão, certa vez, pareceu misteriosa. Antes de resumir a solução (cuja descoberta, apesar de suas trágicas projeções, é talvez o fato capital da história); quero rememorar alguns axiomas.

O primeiro: A Biblioteca existe ab aeterno. Dessa verdade cujo corolário imediato é a eternidade futura do mundo, nenhuma mente razoável pode duvidar. O homem, o imperfeito bibliotecário, pode ser obra do acaso ou dos demiurgos malévolos; o universo, com seu elegante provimento de prateleiras, de tomos enigmáticos, de infatigáveis escadas para o viajante e de latrinas para o bibliotecário sentado, somente pode ser obra de um deus. Para perceber a distância que há entre o divino e o humano, basta comparar esses rudes símbolos trêmulos que minha falível mão garatuja na capa de um livro, com as letras orgânicas do interior: pontuais, delicadas, negríssimas, inimitavelmente simétricas.

O segundo: O número de símbolos ortográficos é vinte e cinco. Essa comprovação permitiu, depois de trezentos anos, formular uma teoria geral da Biblioteca e resolver satisfatoriamente o problema que nenhuma conjetura decifrara: a natureza disforme e caótica de quase todos os livros. Um, que meu pai viu em um hexágono do circuito quinze noventa e quatro, constava das letras M C V perversamente repetidas da primeira linha até a última. Outro (muito consultado nesta área) é um simples labirinto de letras, mas a página penúltima diz “Oh, tempo tuas pirâmides”. Já se sabe: para uma linha razoável ou uma correta informação, há léguas de insensatas cacofonias, de confusões verbais e de incoerências. (Sei de uma região montanhosa cujos bibliotecários repudiam o supersticioso e vão costume de procurar sentido nos livros e o equiparam ao de procurá-lo nos sonhos ou nas linhas caóticas da mão... Admitem que os inventores da escrita imitaram os vinte e cinco símbolos naturais, mas sustentam que essa aplicação é casual, e que os livros em si nada significam. Esse ditame, já veremos, não é completamente falaz.)

Durante muito tempo, acreditou-se que esses livros impenetráveis correspondiam a línguas pretéritas ou remotas. É verdade que os homens mais antigos, os primeiros bibliotecários, usavam uma linguagem assaz diferente da que falamos agora; é verdade que algumas milhas à direita a língua é dialetal e que noventa andares mais acima é incompreensível. Tudo isso, repito-o, é verdade, mas quatrocentas e dez páginas de inalteráveis M C V não podem corresponder a nenhum idioma, por dialetal ou rudimentar que seja. Uns insinuaram que cada letra podia influir na subseqüente e que o valor de M C V na terceira linha da página 71 não era o que pode ter a mesma série noutra posição de outra página, mas essa vaga tese não prosperou. Outros pensaram em criptografias; universalmente essa conjetura foi aceita, ainda que não no sentido em que a formularam seus inventores.

Há quinhentos anos, o chefe de um hexágono superior deparou com um livro tão confuso como os outros, porém que possuía quase duas folhas de linhas homogêneas. Mostrou seu achado a um decifrador ambulante, que lhe disse que estavam redigidas em português; outros lhe afirmaram que em iídiche. Antes de um século pôde ser estabelecido o idioma: um dialeto samoiedo-lituano do guarani, com inflexões de árabe clássico. Também decifrou-se o conteúdo: noções de análise combinatória, ilustradas por exemplos de variantes com repetição ilimitada. Esses exemplos permitiram que um bibliotecário de gênio descobrisse a lei fundamental da Biblioteca. Esse pensador observou que todos os livros, por diversos que sejam, constam de elementos iguais: o espaço, o ponto, a vírgula, as vinte e duas letras do alfabeto. Também alegou um fato que todos os viajantes confirmaram: "Não há, na vasta Biblioteca, dois livros idênticos". Dessas premissas incontrovertíveis deduziu que a Biblioteca é total e que suas prateleiras registram todas as possíveis combinações dos vinte e tantos símbolos ortográficos (número, ainda que vastíssimo, não infinito), ou seja, tudo o que é dado expressar: em todos os idiomas. Tudo: a história minuciosa do futuro, as autobiografias dos arcanjos, o catálogo fiel da Biblioteca, milhares e milhares de catálogos falsos, a demonstração da falácia desses catálogos, a demonstração da falácia do catálogo verdadeiro, o evangelho gnóstico de Basilides, o comentário desse evangelho, o comentário do comentário desse evangelho, o relato verídico de tua morte, a versão de cada livro em todas as línguas, as interpolações de cada livro em todos os livros; o tratado que Beda pôde escrever (e não escreveu) sobre a mitologia dos saxões, os livros perdidos de Tácito.

Quando se proclamou que a Biblioteca abarcava todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens sentiram-se senhores de um tesouro intacto e secreto. Não havia problema pessoal ou mundial cuja eloqüente solução não existisse: em algum hexágono. O universo estava justificado, o universo bruscamente usurpou as dimensões ilimitadas da esperança. Naquele tempo falou-se muito das Vindicações: livros de apologia e de profecia, que para sempre vindicavam os atos de cada homem do universo e guardavam arcanos prodigiosos para seu futuro. Milhares de cobiçosos abandonaram o doce hexágono natal e precipitaram-se escadas acima, premidos pelo vão propósito de encontrar sua Vindicação. Esses peregrinos disputavam nos corredores estreitos, proferiam obscuras maldições, estrangulavam-se nas escadas divinas, jogavam os livros enganosos no fundo dos túneis, morriam despenhados pelos homens de regiões remotas. Outros enlouqueceram... As Vindicações existem (vi duas que se referem a pessoas do futuro, a pessoas talvez não imaginárias), mas os que procuravam não recordavam que a possibilidade de que um homem encontre a sua, ou alguma pérfida variante da sua, é computável em zero.

Também se esperou então o esclarecimento dos mistérios básicos da humanidade: a origem da Biblioteca e do tempo. É verossímil que esses graves mistérios possam explicar-se em palavras: se não bastar a linguagem dos filósofos, a multiforme Biblioteca produzirá o idioma inaudito que se requer e os vocabulários e gramáticas desse idioma. Faz já quatro séculos que os homens esgotam os hexágonos... Existem investigadores oficiais, inquisidores. Eu os vi no desempenho de sua função: chegam sempre estafados; falam de uma escada sem degraus que quase os matou; falam de galerias e de escadas com o bibliotecário; às vezes, pegam o livro mais próximo e o folheiam, à procura de palavras infames. Visivelmente, ninguém espera descobrir nada.

À desmedida esperança, sucedeu, como é natural, uma depressão excessiva. A certeza de que alguma prateleira em algum hexágono encerrava livros preciosos e de que esses livros preciosos eram inacessíveis afigurou-se quase intolerável. Uma seita blasfema sugeriu que cessassem as buscas e que todos os homens misturassem letras e símbolos, até construir, mediante um improvável dom do acaso, esses livros canônicos. As autoridades viram-se obrigadas a promulgar ordens severas. A seita desapareceu, mas na minha infância vi homens velhos que demoradamente se ocultavam nas latrinas, com alguns discos de metal num fritilo proibido, e debilmente arremedavam a divina desordem.

Outros, inversamente, acreditaram que o primordial era eliminar as obras inúteis. Invadiam os hexágonos, exibiam credenciais nem sempre falsas, folheavam com fastio um volume e condenavam prateleiras inteiras: a seu furor higiênico, ascético, deve-se a insensata perda de milhões de livros. Seu nome é execrado, mas aqueles que deploram os "tesouros" destruídos por seu frenesi negligenciam dois fatos notórios. Um: a Biblioteca é tão imensa que toda redução de origem humana resulta infinitesimal. Outro: cada exemplar é único, insubstituível, mas (como a Biblioteca é total) há sempre várias centenas de milhares de fac-símiles imperfeitos: de obras que apenas diferem por uma letra ou por uma vírgula. Contra a opinião geral, atrevo-me a supor que as conseqüências das depredações cometidas pelos Purificadores foram exageradas graças ao horror que esses fanáticos provocaram. Urgia-lhes o delírio de conquistar os livros do Hexágono Carmesim: livros de formato menor que os naturais; onipotentes, ilustrados e mágicos.

Também sabemos de outra superstição daquele tempo: a do Homem do Livro. Em alguma estante de algum hexágono (raciocinaram os homens) deve existir um livro que seja a cifra e o compêndio perfeito de todos os demais: algum bibliotecário o consultou e é análogo a um deus. Na linguagem desta área persistem ainda vestígios do culto desse funcionário remoto. Muitos peregrinaram à procura de Ele. Durante um século trilharam em vão os mais diversos rumos. Como localizar o venerado hexágono secreto que o hospedava? Alguém propôs um método regressivo: Para localizar o livro A, consultar previamente um livro B, que indique o lugar de A; para localizar o livro B, consultar previamente um livro C, e assim até o infinito... Em aventuras como essas, prodigalizei e consumi meus anos. Não me parece inverossímil que em alguma prateleira do universo haja um livro total; rogo aos deuses ignorados que um homem – um só, ainda que seja há mil anos! – o tenha examinado e lido. Se a honra e a sabedoria e a felicidade não estão para mim, que sejam para outros. Que o céu exista, embora meu lugar seja o inferno. Que eu seja ultrajado e aniquilado, mas que num instante, num ser, Tua enorme Biblioteca se justifique.

Afirmam os ímpios que o disparate é normal na Biblioteca e que o razoável (e mesmo a humilde e pura coerência) é quase milagrosa exceção. Falam (eu o sei) de "a Biblioteca febril, cujos fortuitos volumes correm o incessante risco de transformar-se em outros e que tudo afirmam, negam e confundem como uma divindade que delira". Essas palavras, que não apenas denunciam a desordem mas que também a exemplificam, provam, evidentemente, seu gosto péssimo e sua desesperada ignorância. De fato, a Biblioteca inclui todas as estruturas verbais, todas as variantes que permitem os vinte e cinco símbolos ortográficos, porém nem um único disparate absoluto. Inútil observar que o melhor volume dos muitos hexágonos que administro intitula-se Trovão Penteado, e outro A Cãibra de Gesso e outro Axaxaxas mlö. Essas proposições, à primeira vista incoerentes, sem dúvida são passíveis de uma justificativa criptográfica ou alegórica; essa justificativa é verbal e, ex hypothesi, já figura na Biblioteca. Não posso combinar certos caracteres

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que a divina Biblioteca não tenha previsto e que em alguma de suas línguas secretas não contenham um terrível sentido. Ninguém pode articular uma sílaba que não esteja cheia de ternuras e de temores; que não seja em alguma dessas linguagens o nome poderoso de um deus. Falar é incorrer em tautologias. Esta epístola inútil e palavrosa já existe num dos trinta volumes das cinco prateleiras de um dos incontáveis hexágonos – e também sua refutação. (Um número n de linguagens possíveis usa o mesmo vocabulário; em alguns, o símbolo biblioteca admite a correta definição ubíquo e perdurável sistema de galerias hexagonais, mas biblioteca é pão ou pirâmide ou qualquer outra coisa, e as sete palavras que a definem têm outro valor. Você, que me lê, tem certeza de entender minha linguagem?)

A escrita metódica distrai-me da presente condição dos homens. A certeza de que tudo está escrito nos anula ou nos fantasmagoriza. Conheço distritos em que os jovens se prostram diante dos livros e beijam com barbárie as páginas, mas não sabem decifrar uma única letra. As epidemias, as discórdias heréticas, as peregrinações que inevitavelmente degeneram em bandoleirismo, dizimaram a população. Acredito ter mencionado os suicídios, cada ano mais freqüentes. Talvez me enganem a velhice e o temor, mas suspeito que a espécie humana – a única – está por extinguir-se e que a Biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta.

Acabo de escrever infinita. Não interpolei esse adjetivo por costume retórico; digo que não é ilógico pensar que o mundo é infinito. Aqueles que o julgam limitado postulam que em lugares remotos os corredores e escadas e hexágonos podem inconcebivelmente cessar – o que é absurdo. Aqueles que o imaginam sem limites esquecem que os abrange o número possível de livros. Atrevo-me a insinuar esta solução do antigo problema: A Biblioteca é ilimitada e periódica. Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direção, comprovaria ao fim dos séculos que os mesmos volumes se repetem na mesma desordem (que, reiterada, seria uma ordem: a Ordem). Minha solidão alegra-se com essa elegante esperança.


Mar del Plata,1941.